4 pontos básicos que você não pode ignorar ao iniciar seu planejamento financeiro
julho 15, 2020SÃO PAULO – A vida financeira de muitos brasileiros foi impactada pela pandemia. Dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostram que o Brasil registrou recorde de famílias endividadas em decorrência da crise.
A importância da organização financeira para enfrentar momentos difíceis foi um dos destaques desta quarta-feira (15) da Expert 2020, o congresso anual de investimentos promovido pelo grupo XP Inc. A seguir, o InfoMoney traz um resumo de dois painéis do dia, destacando quatro pontos essenciais que não podem ser ignorados por quem está iniciando um planejamento financeiro.
1) Forme a reserva de emergência e se oriente por prazos
No painel “Como o planejamento financeiro se mostra eficiente em momentos de crise”, conduzido por Rodrigo Saldanha, diretor comercial de Previdência da XP Investimentos, Luciana Seabra, CEO da Spiti afirmou que muitas pessoas se baseiam em percentuais fixos de alocação ao começar o planejamento. “Nem sempre funciona. Tente pensar no seu dinheiro ao longo do tempo”, diz.
Segundo ela, o primeiro passo do planejamento é calcular suas despesas para entender o tamanho da reserva de emergência, que deve ter um valor equivalente a, pelo menos, três vezes o seus custos mensais. A partir disso, a recomendação é dividir o dinheiro em prazos.
“Invista a reserva em títulos públicos pós-fixados ou em fundos DI com taxas baixas. No prazo de seis meses é possível procurar opções em crédito privado. Depois, se puder deixar o dinheiro parado de dois a três anos, dá para pensar em fundos multimercados. Por mais de cinco anos, já dá para pensar em ações e para o longo prazo a previdência é o melhor instrumento”, sugere.
Luciana ressalta que a crise mostrou o poder da reserva de emergência. “Ela pode ser útil para dar tranquilidade se tudo der errado, mas também pode servir para aproveitar algumas janelas de oportunidade no meio do caminho. Além do papel de proteger do estresse, também tem a função de possibilitar a compra de fundos e ativos durante a crise”, explica.
Luciano Telo, diretor de investimentos global da XP Private, que também participou do painel, diz que a disciplina também é muito importante nesse início de jornada. “Quando a pessoa coloca todo mês o dinheiro na conta e vê o rendimento, mesmo que não seja um valor alto, já gera a motivação para fazer esse planejamento mais longo e vai virando um hábito”, explica.
Telo afirma que sempre é uma boa hora para começar a investir e se planejar. “Não dá para prever tudo. Se você não tiver guarda-chuva antes da chuva, não adianta correr para comprar quando começar a chover. A bolsa vai subir e cair sempre. Não tente achar o melhor timing“, diz.
2) Diversifique desde o começo
Os especialistas ressaltaram a importância de manter a carteira diversificada, mesmo para quem está começando a investir.
“Tenha um pouco de tudo sempre. Ninguém acerta em todos os momentos. Mesmo com uma alocação simples: um quarto do dinheiro em títulos públicos, como o Tesouro IPCA+, um quarto em fundos multimercados, um quarto em bolsa e um quarto em caixa, não importa, mas sempre compre na proporção para ter uma carteira”, orienta Luciana.
Luciana diz que a carteira mais fácil de carregar durante a crise é a que está diversificada. Segundo ela, um portfólio equilibrado sempre tem um ativo que em tempos normais anda de lado, mas que no momento de estresse dá um salto.
“No geral, as pessoas têm uma parte maior da carteira em ativos brasileiros, mas por que não colocar uma parte em ouro, dólar, ou em um ETF do S&P 500 [fundo que replica o índice das principais ações dos EUA]? É essa alocação diversificada que na crise amortece a carteira e ajuda o investidor a sobreviver e quem sabe ter retorno”, diz Luciana.
Telo afirma que o investidor deve correr risco, porque os juros estão baixos, mas de maneira inteligente. “Escolha o risco que te remunere. O que a diversificação faz é: considerando o mesmo nível de risco, você terá maior retorno se tiver uma carteira diversificada”, diz.
Luciana também diz que a crise ensina como dimensionar a aversão ao risco. “Entenda qual o tamanho da sua aversão e defina uma alocação para seguir com disciplina. Se você não consegue lidar com 30% em renda variável, vá de 10%, mas defina um novo percentual e siga religiosamente. A crise é lição de estômago e alocação de risco”, afirma.
3) Busque planos de previdência mais sofisticados
A previdência privada foi outro assunto debatido no painel. Luciana ressaltou que, mesmo com a Selic no patamar de 2,25% ao ano, a maior parte do dinheiro investido em planos de previdência privada está alocada em títulos de renda fixa pós-fixada, como o Tesouro IPCA.
“Esse é o dinheiro que mais podemos arrojar. Toda vez que você olha bons fundos de bons gestores ativos em janelas de tempo maiores a tendência é positiva. O investidor precisa sofisticar a previdência em prol de mais retorno no longo prazo”, diz.
Além de benefícios tributários, como a dedução dos aportes feitos aos planos do tipo PGBL na declaração de IR, a ausência do come-cotas, e a possibilidade de cair em uma alíquota de 10% de imposto ao escolher a tabela regressiva do IR e investir por mais de dez anos, ela também destacou que o mercado de previdência vem evoluindo muito.
“Há três anos, era uma opção, mas os fundos não tinham bons gestores e havia uma série de restrições regulatórias, como o limite de 49% em renda variável, e uma parcela pequena permitida em investimentos no exterior. Hoje temos muito mais gestores e muitos deles aumentaram as posições no exterior, dado o avanço regulatório, que agora permite entre 10% e 20%”, diz.
4) Proteja seu patrimônio contra riscos
Outro aspecto financeiro abordado na Expert, nesta quarta-feira, foram os seguros de vida.
O painel “A importância dos seguros e da previdência no planejamento financeiro: As escolhas inteligentes para cada momento de vida” foi conduzido por Henrique Pocai, chefe de produtos da XP Corretora de Seguros e contou com a participação de André Iziquiel, gerente de novos negócios na MetLife, Larissa Althoff, superintendente de negócios corporativos da Mongeral Aegon e Luciana Bastos, diretora de desenvolvimento de produtos de vida da Icatu Seguros.
Larissa disse que os clientes de seguros de vida se dividem em três grupos principais, de acordo com a fase de vida. No primeiro, entram os que estão começando a criar consciência financeira, iniciando sua trajetória como empreendedores, não têm dependentes e querem proteger o patrimônio contra riscos, como uma doença grave, que pode prejudicar sua capacidade de gerar renda.
O segundo grupo já tem um perfil mais familiar, são pais e mães de família, que se preocupam com o sustento dos filhos, caso eles faltem.
E o terceiro inclui clientes que se preocupam em transmitir o patrimônio de forma estratégica aos herdeiros. “Sabemos que o imposto sobre herança chega a 8% em alguns estados e há discussões sobre sua ampliação. A previdência é um recurso que não entra no processo de inventário, então não tem ITCMD e ainda tem mais liquidez”, diz.
O Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCMD) incide sobre doações e heranças. A alíquota varia de acordo com o estado, mas o limite é de 8%. Com a pandemia, alguns estados têm discutido o aumento do imposto, como é o caso de São Paulo. Mas os planos de previdência e indenizações de seguros de vida não entram no ITCMD por não configurar herança.
Luciana, da Icatu, disse que muitos brasileiros acham que os seguros de vida e planos de previdência são produtos que oferecem apenas cobertura em caso de morte, mas 25% de todas as coberturas são usadas em vida, como no caso de doenças graves.
“Muitos contratam depois de ter contato com alguém que passou por um sinistro e foi protegido pelo seguro. O brasileiro precisa sair do status quo de que ‘comigo nada vai acontecer’. É importante ter uma proteção porque se algo acontecer a parte financeira não é um problema, o que já é um alento grande”, diz Luciana.
Iziquiel afirmou que os brasileiros estão começando a entender a importância de investir bem e o próximo passo é discutir a importância de proteger melhor o patrimônio. “Se o cliente está no período de acumulação, não se protege e tem perda de renda, muito da reserva dele é dilapidada. Não existe manutenção do patrimônio sem proteção”, completou o gerente de parcerias da MetLife.
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